Minério de ferro abaixo de US$ 84 a tonelada
Japoneses estão preocupados com o oligopólio das produtoras há vários anos
Os preços de minério de ferro, com concentração de 62% (ferro puro),
ficaram praticamente estáveis ao se manterem abaixo de US$ 84 por tonelada,
segundo dados do relatório do Standard Bank. O preço da commodity medido pelo Platts
teve queda de 0,3%, para US$ 83,75 por tonelada, enquanto a cotação apurada pelo
Metal Bulletin subiu 0,21%, para US$ 83,98 por tonelada.
Nos contratos futuros de minério de ferro na China (TSI Fe 62%),
a cotação manteve os mesmos US$ 83,60 por tonelada registrados na última sexta-feira (5).
Produzindo mais
Mesmo com baixos preços, as grandes empresas do minério de ferro, a Rio Tinto e a BHP Billiton e a Vale,
estão elevando sua produção na expectativa de que a enorme eficiência de escala as leve à lucratividade.
Essas empresas também estão apostando que os preços mais baixos vão forçar concorrentes com custos
maiores a sair do mercado, dando a elas maior poder de formação de preço no longo prazo, segundo matéria do Wall Street Journal.
A Cliffs Natural Resources já contratou bancos para vender suas minas na Austrália devido à concorrência difícil.
“As três grandes estão no controle e não há muito a fazer”, diz o brasileiro Lourenço Gonçalves, diretor-presidente da empresa norte-americana.
Imagem: businessreviewindia
A situação está sendo observada de perto pelos fabricantes de aço da China, Correia do Sul e Japão, os três maiores importadores mundiais de minério de ferro.
Se os principais agentes desse mercado, que são responsáveis por mais de 60% do comércio marítimo do mineral, fortalecerem seu controle do mercado, eles
poderão exercer maior pressão nas negociações de preços.
Oligopólio
Um porta-voz da Federação de Ferro e Aço do Japão, Takefumi Nagamine, diz que a entidade está preocupada com o oligopólio das produtoras
de minério de ferro há vários anos. “A situação não mudou”, diz.
Durante o boom das commodities dos últimos dez anos, havia demanda suficiente no mundo para que as mineradoras produzissem o quanto fosse possível,
sabendo que os projetos de infra-estrutura nas economias em desenvolvimento absorveriam tudo.
A produção de minério de ferro continuou crescendo ainda que expansão desses mercados tenha desacelerado, juntamente com a demanda por aço.
China
“A China não irá investir mais o que vinha investindo em infra-estrutura”, disse Mark Cutifani, diretor-presidente da Anglo American.
“Ainda há muitos prédios sem ninguém dentro.”
A China importa 65% de todo minério de ferro comercializado entre países, então sua demanda direciona os preços.
A Anglo, outra grande produtora de minério de ferro, também está elevando a produção em uma nova mina no Brasil, a Minas-Rio,
em Minas Gerais, mas Cutifani prometeu segurar a oferta futura. “As três grandes produtoras do minério precisam mostrar disciplina ou pagarão o preço”, disse.
Superprodução
Ivan Glasenberg, presidente do conselho da Glencore, que, apesar de não ser uma grande produtora, comercializa minério de ferro, também prega cautela.
Ele ressalta que 25% do minério de ferro mundial é de produção nova e a tendência deve continuar crescendo nos próximos quatro anos.
“Estamos superabastecendo o mercado e é isso que está matando o superciclo”, disse.
A produção global das cinco maiores mineradoras — Vale, BHP, Rio Tinto, Anglo American e Fortescue Metals Group— deve crescer mais de 40% até 2017,
para 1,5 bilhão de toneladas, mesmo com a expectativa de a demanda avançar só entre 10% a 15%, segundo Charles Bradford, que dirige uma empresa
de pesquisa de metais. “O resultado será um desastre”, diz.
O presidente do conselho de administração da BHP, Andrew Mackenzie, disse recentemente que sabe que as mineradoras de alguns países sofrerão,
mas estima que outras, incluindo as australianas, vão prosperar.
Com o preço do minério de ferro próximo do nível mínimo em cinco anos, abaixo de US$ 85 a tonelada, várias mineradoras pequenas e médias estão sob pressão.
A Labrador Iron Mines Holdings, do Canadá, paralisou todas as operações há poucos meses devido aos preços baixos demais para cobrir os custos.
Mesmo com os preços abaixo da metade dos US$ 190 registrados em 2011, eles ainda estão cerca de cinco vezes mais altos que em 2004.
Com o custo da exploração do minério de ferro em torno de US$ 50 por tonelada e atingindo até US$ 30 nas mineradoras mais eficientes,
as margens de lucro podem ser expressivas. O minério de ferro responde por mais de 50% dos lucros da BHP e cerca de 90% dos lucros da Rio Tinto e da Vale.
Previsão de alta
Paul Gait, analista da Sanford C. Bernstein, prevê que os preços subirão para US$ 105 por tonelada, uma das maiores estimativas do setor,
que começam em US$ 80 por tonelada para o curto prazo. Segundo Gai, Rio Tinto, BHP e outros grandes fornecedores terão tanta capacidade que irão ditar os preços.
“O minério de ferro será uma boa aposta por um longo tempo”, diz. Isso explica porque as mineradoras continuam a expandir sua capacidade.
Brasil
No Brasil, a Anglo American começará, no fim do ano, a exportar minério de ferro da Minas-Rio, depois de anos de estouros de orçamento que atingiram US$ 6 bilhões.
A ArcelorMittal, está ampliando os investimentos em exploração de minério de ferro no oeste da África e norte do Canadá.
A Vale aumentou sua produção em 13% no segundo trimestre.
No centro desse novo boom de minério de ferro está a Austrália. A BHP e a Rio Tinto garantiram enormes depósitos no país e investiram pesado
em frotas de caminhões que não precisam de motoristas, técnicas eficientes de explosão e extensos sistemas ferroviários para levar
o minério para o porto e de lá para a China.